A prática da renda de bilro, que se entrelaça com a história da Ilha de Santa Catarina há 270 anos, quando os primeiros açorianos chegaram por aqui. No começo, a renda era a profissão de muitas mulheres, colaborando com os ganhos da família.
Durante gerações, a técnica foi passada de mães para filhas, mas hoje poucas são as crianças e jovens que se interessam pelo artesanato local. Para que a tradição não se perca e possa continuar contribuindo como fonte de renda para as famílias, pelo menos dois projetos tentam revitalizar a prática do artesanato tradicional, hoje em dia.
Segundo a superintendente da Fundação Cultural Franklin Cascaes, Roseli Pereira, uma dessas propostas é o projeto Promoarte, que selecionou 65 polos de artesanato tradicional em todo o Brasil, sendo dois deles em Santa Catarina: o de pêssankas e bordados ucranianos em Itaiópolis, no Norte do estado, e a renda de bilro, em Florianópolis.
O projeto municipal reúne inicialmente rendeiras, fuxiqueiras e estudantes de moda das universidades Udesc, Unisul e Estácio, promovendo encontros mensais no Centro da Capital, para profissionalizar as atividades, divulgar os produtos e impulsionar a comercialização do artesanato local, para que a produção se torne referência no país. Também haverá oferta de cursos de qualificação ministrados pelo Sebrae de Santa Catarina, com início previsto para 15 de agosto.
Na Lagoa da Conceição, os dedos ágeis das rendeiras tecem uma história que se perde no tempo. O grupo com cerca de 20 mulheres se reúne às quartas e sextas no Casarão Bento Silvério, como uma forma de convivência e para manter a tradição.
A renda de bilro é produzida pelo cruzamento sucessivo ou entremeado de fios têxteis, executado sobre o pique (cartão com o padrão do desenho a ser tecido) e com a ajuda de alfinetes e dos bilros (pequenas peças de madeira torneada). Uma das extremidades do bilro tem a forma de pera ou de esfera, e o fio está enrolado na outra extremidade. Eles são manuseados aos pares, em movimentos rotativos, orientados pelos alfinetes. O pique é fixado sobre uma almofada feita com palha ou algodão, apoiada sobre um suporte de madeira ajustável, de forma a ficar na altura do trabalho da rendeira.
A origem dessa renda é controversa, mas a cidade de Peniche, em Portugal, é citada por seu elevado nível em arte e produção. Em meados do século XIX, existiam em Peniche quase mil rendeiras e as oficinas particulares ensinavam crianças a partir dos quatro anos de idade.
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